Estudo aponta que a escolha de um parceiro não depende apenas das preferências da pessoa
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A escolha de um parceiro não depende apenas das preferências de um indivíduo. Talvez seu tipo ideal esteja fora do catálogo, ou seja tão escasso que nunca o encontre. Talvez não tenha procurado o suficiente ou tenha procurado mal. Talvez o encontre, mas ele está com outra pessoa. Talvez ele não goste de você.
O primeiro experimento que aborda diretamente esta questão acaba de fornecer alguns resultados inesperados. Os traços desejados e os reais não coincidem nem para as mulheres nem para os homens, embora de formas distintas. Os homens preferem mulheres mais magras do que as que têm. As mulheres podem preferir homens mais magros ou mais gordos.
Apesar de tudo isso, os homens tendem a conseguir o que querem, ou a se aproximarem o máximo possível disso. Por exemplo, aqueles que preferem mulheres muito magras estão com parceiras mais magras que a média. Uma conclusão geral é que os traços que costumam ser considerados primordiais para a atração têm pouca influência na hora de encontrar um parceiro na vida real.
Alexandre Courtiol e seus colegas das universidades de Montpellier e Paul Sabatier mediram as preferências das pessoas em termos de altura e massa corporal, e as compararam com os traços do parceiro real. Estes parâmetros simples abrangem quase toda a variedade de formas do corpo humano.
Os voluntários – 116 casais heterossexuais de Montpellier, França – não expressaram sua preferências de forma verbal, mas sim desenhando a silhueta diretamente no computador, com um programa especial. Também tiveram que desenhar seu próprio corpo, para servir como controle. Os pesquisadores procuraram excluir os fatores de variabilidade genética, não só por restringirem-se a Montpellier: por exemplo, deixaram de fora do experimento 20 casais porque um de seus membros tinha pelo menos um avô que não descendia de europeus. Todo o processo aconteceu de forma anônima, inclusive para os parceiros (e principalmente para estes).
O índice de massa corporal (IMC) consiste no peso dividido pelo quadrado da altura. É uma fórmula curiosa porque, assim como a forma, o peso de um corpo não aumenta de acordo com o quadrado da altura, mas sim com o cubo. Mas uma pessoa alta não é uma mera versão ampliada de uma pessoa baixa – costuma ter uma estrutura óssea mais simples – e usar o quadrado em vez do cubo corrige em parte essa complicação.
Para os adultos, um índice menor de 18,5 é sinal de magreza excessiva, e com frequência de anorexia. Desse valor até 25 o índice indica um corpo em forma; até 30, acima do peso; e mais de 30, a obesidade.
O homem ideal médio das mulheres é variável: mede 1,78 metro (mas vai de 1,60 a 1,90); e pesa 75 quilos (algumas se conformam com 52 e outras chegam até os 109). Mas nem sequer a mulher que gosta muito de homens magros ultrapassa o limite oficial do tolerável: ela busca um índice de massa corporal de 19 (acima dos 18,5 que marca o limite da anorexia). Entretanto, quando uma mulher diz que gosta de gordos, não para na fronteira do sobrepeso (15) nem da obesidade (30): prefere um índice de 34, ou seja, um obeso com tudo o que é de direito.
Os homens permitem que a mulher de seus sonhos tenha um máximo de 1,76 metro de altura, e há os que preferem as de 1,56. A média da preferência masculina está no puro limite da anorexia (18,4), e há homens que apostam no 16. Cabe lembrar que a passarela Cibeles, em Madri, veta as modelos com um índice inferior a 18. No outro extremo, diferente do que ocorre com as mulheres, o homem que mais gosta de curvas não ultrapassa o índice de 27.
Pode-se dizer: todo mundo está longe de seu ideal, mas só as mulheres estão distantes de uma maneira imprevisível. Isso é correto? O que significa?
“De fato, é correto no que diz respeito às preferências para o índice de massa corporal”, respondeu numa entrevista por e-mail o autor principal do trabalho, Alexandre Courtiol, do Instituto de Ciências da Evolução da Universidade de Montpellier. “Por outro lado, as preferências de altura são muito imprevisíveis para todos.”
Até para o IMC ideal expresso pelos homens, enfatiza Courtiol, “e por mais que haja uma forte tendência para preferir um IMC mais baixo do que suas companheiras reais têm, não podemos prever com exatidão o IMC que um determinado homem prefere. Sempre há variação entre indivíduos, como em qualquer sistema biológico.”
“Isso significa que, em média, se compararmos o que um homem quer com o que ele tem em termos de massa corporal, descobriremos que sua companheira é mais gorda que o seu ideal; enquanto que isso não vale para as mulheres: elas tendem a preferir homens mais gordos ou mais magros que seus parceiros reais”.
Essa variação, de fato, era o principal objeto de interesse dos cientistas franceses quando abordaram o estudo. “Essa variedade é importante”, explica Courtiol, “uma vez que, se existir alguma base genética, ela pode ser a matéria-prima para que a seleção natural e a seleção sexual operem”. Os dois grandes motores da evolução previstos por Darwin.
A seleção natural é uma ideia simples: todo ser vivo tem uma grande capacidade de reprodução – produz cópias de si mesmos com leves variações -, mas num mundo de recursos escassos só algumas cópias sobrevivem o bastante para se reproduzirem: aquelas com variações mais vantajosas nesse entorno particular.
Se as condições do entorno se mantêm durante centenas de gerações, as variações vantajosas colonizam toda a população. Visto de fora, a espécie terá evoluído para uma forma melhor adaptada a esse entorno.
Mas Darwin se deu conta de que os chifres do antílope e a cauda do pavão não podiam ter evoluído por seleção natural – ambos são difíceis de produzir, inconvenientes e aparentemente inúteis -, e postulou um segundo mecanismo para explicar esse tipo de ostentação: a seleção sexual.
A teoria sustenta que há traços (adornos, cores chamativas, tamanhos chocantes) que garantem a seu portador um grande sucesso com o sexo oposto. A potência desse motor evolutivo nesses casos é superior à da seleção natural, que tende a eliminar esses traços tão vistosos para os predadores. Como mecanismo evolutivo, ter sucesso é mais rápido que passar despercebido.
Tanto os chifres do antílope como a cauda do pavão são produto da seleção sexual, ainda que de modos distintos. Os chifres servem para o macho brigar com outros machos pelas fêmeas. A cauda serve diretamente para atrair as fêmeas. Foram as preferências sexuais das fêmeas do pavão que impulsionaram a evolução da cauda dos pavões machos.
Uma hipótese para explicar nossas preferências sexuais – ou até mesmo nossas tendências estéticas – é que a beleza é um indicador de saúde. Um rosto simétrico, por exemplo, seria o resultado final de um processo de desenvolvimento adequado. Isso explicaria a preferência humana pela simetria. Mas Courtiol não acredita que esta ideia explique os novos dados.
“Determinar se traços atraentes representam ou não sinais de qualidade é uma questão difícil”, diz o cientista. “Darwin e Wallace [Alfred Russell Wallace, que também descobriu a evolução por seleção natural] já discordavam sobre a questão, e a controvérsia não cessou. Os psicólogos evolutivos tendem a ignorar esses problemas, infelizmente, e propagaram a ideia de que a atratividade é a característica externa dos bons reprodutores”. Por exemplo, se “As Três Graças” de Rubens representavam o cânone de beleza do século 17, a atratividade nesta época estava fora das margens consideradas saudáveis pela medicina atual. “Num cálculo a olho, comparando-as com minha base de dados gráfica, eu daria a elas um IMC de 30, como se medissem 1,62 e pesassem 78 quilos”. Um índice de 30 é a fronteira entre o sobrepeso e a obesidade. “Por certo, uma delas parece ter um câncer de mama.”
Há, de fato, vários artigos técnicos recentes que indicam que as três graças – ou pelo menos uma delas – padeciam não só de câncer de mama, mas também de escoliose, hiperlordose, hiperextensão das articulações metacarpais e pés chatos. Mais do que um sinal de vigor darwiniano, a beleza parece nesse caso um sintoma de doença.
Um fato curioso é que, ainda que existam grandes diferenças entre uma mulher e outra em matéria de preferências, não há uma inclinação geral por homens “mais altos” nem “mais gordos”. Com os homens, isso só acontece com a estatura de sua mulher ideal: não há uma tendência geral. Mas ela existe com a forma do corpo. A mulher ideal pesa em média cinco quilos menos que a real, ou tem dois pontos e meio a menos no índice de massa corporal.
Entretanto, a variabilidade de preferências de cada mulher parece que é compensada entre o grupo de mulheres. De modo que, se só observarmos as médias da população, suas preferências coincidem com a realidade: os traços que consideram ideias coincidem com os de seus parceiros. Por que as preferências e as características do parceiro ideal são tão parecidas em média? Por que os desvios do ideal deveriam se compensar na população?
“Não sabemos”, admite Courtiol. “Um biólogo panglossiano responderia algo assim: “porque as características dos homens evoluíram para que coincidam com as preferências da mulher média”. Mas não creio que essa explicação seja a correta, porque as preferências podem mudar muito rapidamente, e creio que, na verdade, a situação era diferente até muito recentemente (numa escala de tempo evolutivo)”.
O investigador francês explica: “se a preferência das mulheres para a altura não tivesse mudado por um tempo, isso quer dizer que, há 50 anos, as mulheres preferiam homens muito mais altos que a média de então; mas com o notável aumento da estatura média nas últimas décadas – devido principalmente à saúde e à modificação dos hábitos alimentares, e não à mudança genética -, resulta que agora a altura média dos homens coincide com a média das preferências das mulheres. Se isso for assim, essa coincidência é pura sorte.”
Courtiol acredita que a correlação (entre as preferências e características reais do parceiro) seria maior entre as mulheres e seus amantes? “É muito provável, na verdade”, responde o cientista francês. Mas este seria um experimento mais delicado e difícil de organizar, não? “De fato, precisaríamos analisar os dois casais, e teria que pedir às mulheres para trazerem seus amantes ao laboratório”.
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http://psicosaber.wordpress.com/2010/11/29/cientistas-examinam-se-a-selecao-sexual-postulada-por-darwin-rege-a-evolucao/
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