Na imagem, o micro-organismo que usa arsênio no lugar de fósforo na constituição de seu DNA
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A astrobióloga do Centro Goddard, da Nasa, Pamela G. Conrad, acredita que a nova forma de vida descoberta por cientistas americanos pode ser uma espécie de vida primitiva, uma das primeiras "tentativas" para os seres vivos que se desenvolveram depois. Pamela esteve presente no anúncio oficial da descoberta, na quinta-feira, na sede da Nasa. Em entrevista ao Terra, a astrobióloga afirma que nas primeiras biomoléculas, tanto o DNA quando outras moléculas básicas dos seres vivos, podem ter "experimentado" diversos elementos químicos para sua formação básica.
"Por exemplo, o composto de arsênio não é apenas o metal arsênio, mas é arsênio com oxigênio. Chamamos de arseniato. É muito menos estável quimicamente do que o típico grupo de elementos químicos que se encontra no DNA, chamado fosfato. Portanto, é possível que tenhamos começado por fazer biomoléculas com elementos químicos instáveis como o arseniato e outros. Mas, conforme as moléculas foram aleatoriamente formadas, se degeneraram, e foram novamente formadas, aquelas com elementos mais estáveis foram as que persistiram. Assim, é possível que este micro-organismo seja uma molécula mais primitiva. Mas pode ser uma de muitas", disse a pesquisadora.
A bactéria descoberta pelos pesquisadores é considerada diferente de todos os demais seres vivos conhecidos. Carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre são os seis elementos básicos de todas as formas de vida na Terra. Fósforo é parte da estrutura do DNA e do RNA, as estruturas que transportam as instruções genéticas da vida e é considerado um elemento essencial para todas as células vivas. A bactéria encontrada tem no lugar do fósforo o arsênio, um elemento químico tóxico para os demais seres vivos.
Questionada se os pesquisadores criaram ou alteraram de alguma forma a bactéria, Pamela diz que não. "Ninguém criou nada novo. É algo que já existia neste lago incomum e foi agora observado. Nada foi alterado, foi apenas observado algo que já existia na natureza."
Segundo a Nasa, a descoberta amplia o escopo de busca por vida fora da Terra e vai mudar os livros de Ciência. "Ao procurarmos por vida, tentamos reconhecer a química e a estrutura que basicamente definem a vida. (...) Há seis elementos que normalmente vemos associados à vida: hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Estes seis elementos são universalmente constantes na vida. Mas, quando vemos um organismo com um elemento como o arsênio, pensamos que o arsênio é tóxico e, portanto, provavelmente, não pode haver vida. A partir de agora, quando vermos arsênio, teremos de pensar que pode haver um tipo de vida que use esse elemento químico", diz a astrobióloga.
Por outro lado, teorias já indicavam a possibilidade de que outros elementos químicos poderiam se combinar para formar vida. "A novidade é que agora temos algo específico que podemos observar, e podemos tentar aprender com a estratégia que esse tipo de vida usa a fim de determinar que tipo de caminhos químicos ela pode usar para processar o que está disponível no meio ambiente."
"Nunca havíamos observado algo que incorporasse um elemento químico alternativo ao DNA, a molécula que grava instruções para que os organismos se reproduzam. Se o que foi descoberto se provar estável e pudermos observar isso de forma reproduzível, veremos que esse tipo de molécula não é tão exclusiva, e que talvez possa incorporar outros elementos químicos. Portanto, ao estudarmos poderemos ver os métodos pelos quais as biomoléculas usam outros elementos, o que pode nos proporcionar ideias para maneiras diferentes de procurar por vida", diz a pesquisadora.
Pamela descarta a possibilidade de que a bactéria tenha origem extraterrestre, já que tem várias semelhanças com outros seres na Terra. "Não é um organismo que é feito de algo diferente, mas que incorpora algo que é geralmente tóxico. (...) A diferença é que ele é capaz de sobreviver à presença deste metal tóxico (o arsênio)".
Sobre a possibilidade de o organismo ter uma origem diferente das demais formas de vida da Terra, ela também acha improvável, "mas é difícil saber com certeza". "A maneira pela qual sabemos isso é estudando a composição química hereditária, o DNA, e daí vemos o quão parecido o organismo é com outros micróbios. O organismo descoberto é suficientemente semelhante a outros micróbios, portanto temos bastante certeza de que a sua origem é terrestre", diz.
Por que estudar um lugar onde quase não há vida?
Com uma grande quantidade de arsênio em suas águas, o lago Mono, na Califórnia - onde foi descoberta a bactéria-, tem pouca vida. Apenas algumas plantas sobrevivem presas às suas rochas. Então, por que os pesquisadores foram a esse lugar morto? Segundo Pamela, os poucos seres que vivem lá podem dar pistas de como pode ter sido a vida em outro local do Sistema Solar.
"Este lago é interessante por que é uma bacia que evapora água. Sabemos que Marte costumava ter água estagnada. Portanto, conforme a água foi desaparecendo de Marte, a última porção de água ficava em uma bacia que evaporava. Tentamos entender a química e a mineralogia associadas a uma bacia que está evaporando e procuramos compreender a estratégia de sobrevivência que os organismos encontrados em tal bacia podem usar."
Pamela ainda acredita que a descoberta indica que sabemos muito pouco sobre o nosso próprio planeta. "Muitas pessoas especulam que pode haver metabolismos ou estratégias de vida estranhos ou alternativos que ainda não foram observados. Acho que seria muito pretensioso se algum cientista acreditasse que já observamos tudo que a natureza tem a oferecer. Prevejo que ainda observaremos muitas coisas incomuns com relação à vida."
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http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4826456-EI8147,00-Pesquisadora+nova+bacteria+pode+ser+forma+primitiva+da+vida.html
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
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