Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A ENZIMA CALPAIN É UMA DAS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELO ARMAZENAMENTO DE INFORMAÇÕES NA MEMÓRIA

Enzima subestimada há 30 anos pela ciência, a calpain pode ajudar cientistas a desvendar mistérios sobre doenças como o Alzheimer e o transtorno bipolar, indica estudo norte-americano
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Houston — A memória, com suas intrigantes e desafiadoras funções, tem desvendado um de seus principais mecanismos, graças ao trabalho de uma equipe de cientistas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos. A chave de muitos segredos é uma enzima, chamada calpain. A substância, que permaneceu esquecida por muitos anos, agora revela uma face surpreendente: é uma das principais responsáveis pelo armazenamento de informações em nossa memória.

Por trás dessa enzima, antes subestimada, podem estar escondidas respostas para inúmeras doenças e síndromes como o autismo, o mal de Alzheimer, o transtorno bipolar e até o câncer, que sozinho pode afetar aproximadamente 400 mil brasileiros este ano, conforme estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Na década de 1990, tínhamos pistas de que havia conexão entre a calpain e a memória, mas não conseguimos provar essa relação, na época. Agora, quase 30 anos depois, demonstramos que a ligação existe e é fortíssima”, afirma um dos responsáveis pelo Programa de Pesquisa de Neurociência da USC, o francês Michel Baudry.

Segundo o cientista, mais do que criar espaços para armazenar memória, a calpain — presente na maioria das células humanas — é responsável também pelos principais movimentos de uma célula, como o de migração, expansão e crescimento. Portanto, também é a substância que detém a previsão de quantos anos podemos viver.

Baudry observa que a enzima em estudo tem como função catalisar proteínas e, consequentemente, modifica suas funções. “O que tentávamos descobrir era como, onde e em quais circunstâncias a calpain era ativada. Escolhemos trabalhar com as células nervosas e adicionamos várias proteínas à enzima”, conta. Diferentemente da frustração de 30 anos atrás, desta vez os cientistas conseguiram provar como a reação ocorre, graças a um novo método, que possibilitou fotografar a ativação da calpain ao mesmo tempo que mostrava a multiplicação de sinapses em um neurônio, as ligações entres as células neurológicas.

Cerca de 10 substâncias foram testadas e a que mais ativou a calpain foi a proteína BDNF (Brain Derived Neurotrophic Factor, ou fator neurotrófico derivado do cérebro) que é considerada um ativador de crescimento bem conhecido pela comunidade científica. “Já se sabe que doenças como Alzheimer, autismo e outras inabilidades mentais têm em comum a falta de BDNF no organismo. Mas não se sabia que sem a calpain, o BDNF se torna subutilizado. Portanto, a calpain é tão importante quanto o BDNF. Uma precisa da outra”, afirma Baudry. Em poucos minutos, depois da calpain ser ativada, milhares de conexões de sinapses foram observadas. “A rapidez do processo foi incrível. Constatamos que a ativação da calpain é responsável por tornar as sinapses maiores e, consequentemente, mais poderosas. Então, sinapses mais largas podem armazenar mais memória e informação”, diz o cientista.
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