Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Bento 16 cita Espanha como peça principal da nova evangelização

Secularização, relativismo e ateísmo são os principais obstáculos ao catolicismo na Europa, segundo a hierarquia da Igreja. Para abatê-los, Bento 16 criou no último dia 12 o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. Trata-se de um novo ministério da Santa Sé, com o mesmo grau que as congregações clássicas. Para promover a evangelização onde as igrejas são de nova criação e os batizados uma minoria, Roma conta com a Congregação para a Evangelização dos Povos. Este outro organismo foi criado para anunciar o Evangelho em nações de antiga cristandade, hoje mergulhadas em profunda crise.

A Espanha será no próximo fim de semana o primeiro cenário desse novo projeto, durante a visita do papa a Santiago de Compostela e a Barcelona para ganhar o jubileu e para transformar em basílica a igreja do grande Antonio Gaudí, respectivamente.

A Espanha "evangelizadora de metade da orbe", segundo Menéndez Pelayo, é hoje, segundo os prelados, um descampado religioso, "um país de missão", segundo o diagnóstico do cardeal de Madri e presidente da Conferência Episcopal, Antonio María Rouco.

O temor do Vaticano é que o que qualificam de "fundamentalismo laicista" do governo socialista se dissemine para o resto da Europa e da América Latina. A lei que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo é o emblema dessas preocupações. Os receios não se apaziguaram, apesar das boas relações que mantém hoje a Cúria com o Executivo espanhol. O aumento pelo governo em 34% da cota que cada católico pode destinar a sua confissão na declaração de renda anual é um dos exemplos desse entendimento. Também compactuaram parar a reforma da Lei Orgânica de Liberdade Religiosa, várias vezes anunciada pelo PSOE.

A ofensiva para "recuperar a Espanha" é encabeçada com entusiasmo por Bento 16, como demonstra com esta viagem. É a segunda que ele faz ao país, depois de sua visita a Valência em julho de 2006, para encerrar o 5º Encontro Mundial das Famílias. No próximo verão voltará, desta vez a Madri, por motivo da Jornada Mundial da Juventude. São três visitas em apenas seis anos. Nenhum outro país mereceu nem de longe tanta atenção.

Mas nem tudo são vitórias. O interesse do papa não se concretiza na nomeação de cardeais, por exemplo. Neste momento só há dois ativos, um em Madri (Rouco, prestes a completar 75 anos) e um em Barcelona, Lluís Martínez i Sistach, nascido em 1937. Há outros purpurados espanhóis, mas já estão aposentados (Carlos Amigo em Sevilha e Julián Herranz em Roma, entre outros), ou trabalham na Cúria Romana, como Antonio Cañizares (Utiel, Valência, 1945), primaz de Toledo até que Bento 16 o fez em 2008 o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

As arquidioceses de Valência, Valladolid, Oviedo, Santiago de Compostela ou Burgos, entre outras, e a sede primaz de Toledo esperam, algumas há um século, que o papa distinga seus respectivos arcebispos com o capelo cardinalício. Em troca, acaba de tornar cardeal o arcebispo José Manuel Estepa Llaurens, que foi vigário geral castrense de 1983 a 1995 e que em janeiro próximo completará 85 anos.

Esta viagem do papa está mergulhada em outras polêmicas, especialmente pelas organizações laicas. Também levantaram a voz muitos católicos, como Redes Cristãs e a Associação de Teólogos João 23. Acusam o governo de comprometer o caráter não-confessional do Estado. Outras críticas citam o fator econômico. Segundo o Europa laica, a visita vai custar ao estado 5 milhões de euros, à razão de 200 mil euros por hora de permanência.

Outros reparos se referem à própria missão do papa, "que precisa ir pelo mundo anunciando o Evangelho", salienta o teólogo José María Castillo. Diante do fundador cristão, que entrou em Jerusalém cavalgando um asno, os católicos de base se fixam na pompa de visitas que "enchem estádios, mas esvaziam igrejas".

"Não há líder mundial que se apresente com a pompa com que o faz o sucessor de Pedro, ou seja, o sucessor daquele modesto pescador da Galileia. Quando Jesus mandou seus apóstolos pregarem o Evangelho, os proibiu severamente de levar ouro, prata, moedas, duas túnicas, sandália ou bastão, segundo escreveu o evangelista Mateus."

A tese da Associação de Teólogos João 23 é que, mesmo quando a viagem se apresenta como uma visita pastoral e com caráter religioso, não se pode desconhecer o caráter eminentemente político do papa, ao reunir em sua pessoa a dupla função de autoridade religiosa e chefe de Estado da Cidade do Vaticano.

"A função de autoridade religiosa a exerce de maneira antidemocrática, e a de chefe de Estado nos parece um contrassenso, está em aberta oposição ao Evangelho e é um contrassinal que, longe de aproximar, afasta da fé em Jesus de Nazaré", dizem.

"Acreditamos que esta viagem tem muito pouco a ver com as viagens apostólicas de Paulo de Tarso, cuja finalidade era anunciar o Jesus Cristo libertador e a boa nova da libertação, criar comunidades cristãs e fortalecer na fé as já existentes, com risco de sua vida pelas ameaças das autoridades civis. A viagem está programada como um fenômeno de massas e de aclamação a sua figura em um ato de papolatria, sem contato com as comunidades cristãs vivas e menos ainda com os setores menos favorecidos. Tem muito de folclórico e muito pouco de expressão de fé genuína e autêntica", conclui a associação de teólogos

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http://wap.noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2010/11/03/bento-16-cita-espanha-como-peca-principal-da-nova-evangelizacao.htm

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