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Hubert Alquéres
(A fotobiografia "Fernando Henrique Cardoso - 80 anos" - Ed. Jatobá -, organizada por Hubert Alquéres, será lançada nesta quarta-feira (14), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Esta apresentação do organizador é publicada especialmente por Terra Magazine).
Você pode encontrar FHC em qualquer lugar do planeta. Num aeroporto, restaurante, museu ou numa universidade. Ele estará desacompanhado de qualquer tipo de aparato ou assessores.
Vivi essa experiência no início de setembro deste ano. Viajei para a França e, ao desembarcar no aeroporto Charles de Gaulle, aguardando as bagagens, lá estava ele. Sentado, tranquilo, com os pensamentos aparentemente distantes e com o peso das lembranças e a sabedoria dos oitenta anos de idade, mas também com aquela energia de quem é apaixonado pela vida, pelas pessoas e pela infinita capacidade do ser humano de se renovar e surpreender. Não resisti, saquei o celular e tirei a foto que acompanha este texto. Foi uma indiscrição que revela um homem por inteiro. Segundos depois, FHC mostrou que estava muito atento, percebeu as malas chegando, deu um salto e, com a vitalidade de um jovem, se arremessou para pegar as suas. Em instantes, como qualquer cidadão do mundo, deixava rapidamente o aeroporto, um espaço de passagem, desprovido de identidade. Mas FHC estava ali, pleno, o que nos é mostrado a cada página deste livro.
FHC viveu acompanhado de muita gente. O registro da infância resgata o ambiente familiar unido, alegre, mas cercado de uma certa solenidade. Solenidade típica de uma época, sobretudo em dia de tirar fotografia.
O livro também percorre os anos de juventude, período de esforço pela formação cultural em momentos de saudável companheirismo, que incluem a parceria com uma jovem bela e discreta - Ruth Cardoso.
O amor pela política, por valores e princípios fica claro nos capítulos que recuperam o Cebrap, o exílio, a volta ao Brasil, a passagem da anistia, as campanhas das Diretas Já e de "Tancredo presidente". Depois, ministro e presidente, quando foi protagonista de transformações fundamentais para o povo brasileiro, cujos resultados são sentidos por todos nós, todos os dias.
Dessa forma, este livro também pode ser visto como um amplo painel da história política brasileira e da luta pela democracia nas últimas décadas. Gosto da foto em que ele está com Lula distribuindo panfletos numa porta de fábrica no ABC paulista. Também daquela em que segura de maneira afetuosa a mão de Fernando Gabeira, dividido entre uma plateia que o ouvia falar e a emoção de transferir uma energia boa para o companheiro de ideais. Acenando, num caminhão, ao lado de Mario Covas e José Serra numa carreata. Caminhando pelas ruas da cidade ao lado de Ulysses, Tancredo, Brizola, pelas diretas. E as fotos envolvendo multidões de pessoas para ouvir seus discursos, suas mensagens.
Essas fotos remetem a um dos períodos mais emblemáticos da história da República brasileira. Foram anos de longa e paciente resistência a uma ditadura que não conseguiu minar a capacidade de acreditar na vocação do ser humano para a convivência. As pessoas eternizadas nessas imagens foram capazes de afirmar crenças, valores, de fazer valer o direito à opinião, à discordância, ao debate, à convergência, à divergência. Juntar forças, retomar as praças e os palanques, sonhar junto: FHC e sua lucidez estiveram no epicentro desse processo de retomada da nação pelo poder civil. Sua vasta gama de alianças testemunha sua disponibilidade para o diálogo permanente com todas as linhas de pensamento.
Quase sempre cercado de gente, as fotos também mostram alguém introspectivo - quando somos então mais humanos, formulando perguntas, isolado com pensamentos em grandes responsabilidades. Ou contido na sua emoção, que a vida "tem dessas exigências brutas".
Win Wenders, um dos mais importantes nomes do cinema mundial, disse certa vez que "fotografamos para existir". A fotografia transcende, imortaliza situações, pessoas.
As fotos do livro, sacadas por diversos fotógrafos e garimpadas em bancos de imagens dos principais jornais e revistas do Brasil, preservam momentos fundamentais da história política recente do nosso país. E também a ação de homens que acreditaram no Brasil e na possibilidade de construir uma nação justa, democrática e plural.
A fotografia traz em si uma estranheza que amplia nossos horizontes e percepções. É o caso da foto que mostra FHC mergulhando em Fernando de Noronha. Inusitada, faz lembrar a letra da canção de Gilberto Gil que diz "o melhor lugar do mundo é aqui e agora". Um refrão que resume bem sua capacidade de estar sempre por inteiro "onde e quando" está.
No fechamento deste livro, quando perguntei a Fernando Henrique Cardoso sobre a foto, respondeu com simplicidade e ar maroto: "Por incrível que pareça, sou eu mesmo a dez metros de profundidade, para horror dos médicos e da segurança".
Este é FHC, em qualquer lugar do mundo, aqui e agora.
Veja também:
» Fernando Gabeira: FHC abriu janelas fechadas por marxismo reducionista
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http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5517092-EI6578,00-Livro+sobre+FHC+resgata+historia+da+Republica+brasileira+atraves+de+fotografias.html
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