Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

RS: em escola de lata, estufa e cobertor viram material escolar

Na Escola Estadual Rafaela Remião, em Porto Alegre, a professora levou um aquecedor para a sala de aula


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O frio registrado nas últimas semanas no Rio Grande do Sul gera belas imagens e atrai muitos turistas ao Estado, no entanto as temperaturas baixas trazem problemas para três escolas gaúchas que abrigam os alunos em contêineres, as chamadas escolas de lata. Cobertores, aquecedores e roupas doadas viraram parte do ambiente escolar e, nos dias mais frios, tornam-se indispensáveis, garantem os professores.
Na Escola Estadual de Ensino Médio Rafaela Remião, em Porto Alegre, 240 alunos do 2º, 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental estudam nos contêineres. A situação, que começou em maio de 2009, traz problemas para a escola. "Algumas professoras falam que os alunos andam por dentro da sala e com esse frio não tem como pedir para eles ficarem quietos, de alguma maneira eles têm que se esquentar", diz a diretora, Maria Silvarina Garcia dos Santos.
Há 10 anos no magistério, a professora Rosaura Bom Mazzikelli tenta achar alternativas para conseguir prender a atenção das crianças do 3º ano. "Os alunos ficam batendo o pé, eu coloquei jornal nos meus pés e nos calçados deles para aquecer um pouquinho. Tenho cobertor na sala de aula para quando o frio está muito intenso". A educadora também leva de casa roupas de lã para aquecer as crianças mais carentes.
"Quando eles estão agitados demais eu digo: 'vamos pôr roupa', dai começamos a colocar as peças. Isso prejudica muito a aprendizagem, eles nem prestam atenção na minha explicação, ficam reclamando do frio. Estamos sempre gelados mesmo", diz a professora.
Com temperaturas próximas de 0ºC nas manhãs de inverno, os educadores encontram salas praticamente vazias. "Nos dias sem sol eu tenho três, quatro alunos na sala de aula. Não posso dar matéria nova porque não tenho nem metade dos alunos dentro do contêiner, fica todo o conteúdo atrasado. Dai tenho que ter jogo de cintura", reclama a professora.
Enquanto isso, as meninas da classe enumeram o número de peças de roupa que usam para espantar o frio. "Estou com uma meia calça, duas meias, mais a calça e continua muito frio", diz uma aluna de oito anos. "A minha mão endurece de frio", afirma outra ao contar que fica difícil anotar o conteúdo. Para os que não têm agasalhos suficientes e não podem levar cobertores, a escola também distribui roupas doadas pela comunidade. "Às vezes crianças veem só com um chinelinho, aí algum professor vê se tem um tênis em casa e traz, as vezes os professores até compram", fala a diretora.
Em outra turma do 3º ano, a professora Elizabete Picoli de Lucena, pedagoga com 18 anos de magistério, tenta controlar os alunos com idades entre 8 e 14 anos que não param sentados. "Eu trouxe um aquecedor de casa. Sem estufa não tem como suportar o frio", diz a professora. "Eu reúno todos em um canto da sala, ficamos todos juntinhos, perto da estufa, porque aí fica mais quente e eu consigo dar aula".
No entanto, de acordo com Elizabete, não é só o frio que atrapalha o aprendizado nas salas. "A cor que é usada aqui nessa lata, esse cinza, isso aqui é fúnebre, pedagogicamente é um desastre. As crianças sentem como se estivessem num caixão, num caixão gelado". Colocar cartazes coloridos com desenhos das crianças foi a alternativa encontrada pela professora para deixar o ambiente "mais alegre".
Apesar dos problemas, a educadora não desanima com a "missão de ensinar". "Aqueles que dão aulas em condições sub-humanas, com estrutura física precária, esses se mostram grandes professores. Então, eu sou uma boa professora porque eu dou aula aqui, no frio, na chuva, nesse caixão como eles (os alunos) chamam".
Antes dos contêineres, a escola contava com algumas salas em um prédio de madeira que foi condenado pelos riscos que a estrutura oferecia aos alunos. No entanto, não foi possível remanejar todos os estudantes. De acordo com a diretora, durante um tempo os alunos dividiam salas superlotadas com estudantes de outras turmas. Sem condições de manter a situação, a direção solicitou providências para a Secretaria da Educação do Estado, que enviou os contêineres para servir como medida provisória. A previsão era de que as obras de construção de novas salas ficassem prontas em seis meses. Passaram três anos e a situação ainda não foi solucionada.
Com um investimento de R$ 1,9 milhão, a obra começou um ano após a ida dos estudantes para os contêineres. Segundo direção da escola, questões burocráticas prejudicaram o início da construção, que tinha previsão de término de 180 dias, ou seja, março deste ano.
Alunos têm aula na rua em dias de sol
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental Coelho Neto, no bairro Bom Jesus, também em Porto Alegre, a alternativa encontrada pelos professores para contornar o frio das salas de aula de lata é levar os alunos para o pátio nos dias de sol. "A gente tenta dar aula na rua, para aproveitar o sol. Até mesmo o frio da rua é mais quente que a sala de aula", afirma a diretora Patrícia Jaqueline Andriola.
De acordo com ela, os professores "contam os dias" para que o frio acabe. "A nossa comunidade é muito carente. Até conversamos sobre deixar as crianças trazerem cobertores, mas se eles não tem isso nem em casa, imagina para trazer para a escola". Para superar o problema, a escola reforça na merenda. Além da refeição, os alunos recebem chá e leite quente nas salas de aula para aquecer.
A escola também conta com a estrutura "provisória" há três anos, após a interdição das salas de madeira por problemas no piso. São cinco salas, onde estudam cerca de 320 alunos nos turnos da manhã e tarde. Segundo a diretora, as obras estão atrasadas porque a escola solicitou a construção de um elevador para atender os alunos com deficiência física, o que não estava previsto no projeto original. "Temos diversos alunos com dificuldade de locomoção e não poderíamos deixar eles impossibilitados de acessar o piso superior", diz Patrícia, que aguarda a mudança para o novo prédio em setembro.
Incêndio obriga crianças a estudar em salas de lata
Na Escola Estadual de 1º Grau Ismael Chaves Barcellos, na cidade de Caxias do Sul, serra gaúcha, 200 alunos estudam nas salas de lata devido a problemas na infraestrutura. No final de 2008, aconteceu um incêndio na escola e, para que os alunos não estudassem num prédio com riscos de desabamento, o governo do Estado optou pela instalação dos módulos metálicos até que a obra de recuperação estivesse pronta. Mas, em 2009, um temporal prejudicou a outra parte da estrutura da escola, fazendo com que novas turmas passassem a ter aulas também nos contêineres.
O novo prédio, previsto para ser entregue no início do ano, atrasou por conta de uma obra para reforçar o sistema de energia. "Os tramites burocráticos são um entrave sério nessas situações", diz Sonia Beatriz Sbersi, diretora da escola. "Agora temos ar condicionado, mas não podemos deixar as salas fechadas, até mesmo por conta das doenças. Sem circulação de ar fica horrível. Em um lugar muito pequeno e com muita gente é impossível respirar", afirma.
O que diz a Secretaria de Educação do Estado
De acordo com o diretor administrativo da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, Claudio Sommacal, em janeiro deste ano o Estado tinha sete escolas, com mais de 1,8 mil alunos, nos módulos habitáveis (contêineres). Durante o ano, quatro escolas ficaram prontas. No entanto, nas outras três as empresas solicitaram mais prazo para a entrega das salas, o que atrasou o cronograma e afetou 1,3 mil alunos que permanecem com aulas nos contêineres.
O diretor afirma que a decisão de utilizar os contêineres foi tomada pela administração anterior do Estado. "Foi uma alternativa muito infeliz, contestada pelas comunidades escolares. Estamos conversando com as universidades e vendo exemplos de outros Estados para a construção de salas em casos emergências, mas esse modelo com certamente não será mais usado", disse. Sommacal não soube explicar os motivos dos atrasos no início das construções, que segundo ele correspondem ao trabalho do antigo governo estadual
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http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5228688-EI8266,00-RS+em+escola+de+lata+estufa+e+cobertor+viram+material+escolar.html

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