Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O alcance do ativismo secularista


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Autor: Pedro Almeida

A militância ateísta e humanista no mundo tem crescido de forma estrondosa e progressiva. O que há poucos anos era uma posição isolada de indivíduos, a defesa do direito de professar seu ateísmo sem vergonha ou de criticar as instituições de fé são agora posições defendidas abertamente por diversos grupos de pessoas que, finalmente, sentem-se livres para saírem do armário.

Vimo-nos forçados a reprimir a descrença por muito tempo. Dizer que não acredita no Deus cristão ou qualquer outro foi, por muito tempo, um estigma interiorizado. Ateus guardavam para si sua total discordância com os mandos e desmandos das religiões mundo afora, ou seu desgosto com a inquestionabilidade da fé.


“Este ativismo é uma posição que se baseia em ideais sólidos”

Sempre houve toda uma repressão não declarada que pairava no ar, a qual tivemos que suportar, dentro de nós mesmos, de forma interiorizada o suficiente para não darmos maiores importâncias de reclamar por direitos ou respeito.

Mas o ativismo no campo do secularismo não tem nada de ilegítimo. Assim como defender o meio ambiente ou a erradicação do sexismo na sociedade, este ativismo é uma posição que se baseia em ideais sólidos: defender separação entre igreja e estado é defender princípios constitucionais; Repudiar a preconceituação de indivíduos pela sua escolha religiosa ou irreligiosa é defender uma sociedade igualitária; Apoiar movimentos humanistas e liberais, que defendem os direitos de minorias, preferindo contabilizar a dignidade de qualquer ser humano em detrimento de supostas autoridades, é ter pé no chão e defender a realidade. Defender a vida humana pela sua unicidade é prezar pelo respeito mútuo, aqui e agora.

“O secularismo é uma posição que permeia alguns dos países mais desenvolvidos do mundo”

Mas como toda tentativa de mudança do pensamento coletivo conservadorista, o ativismo ateísta tem incomodado. As diversas instituições religiosas que dependem da exploração da credulidade alheia para sobreviveram não podem cooptar com pessoas que questionam a fé, com indagações sobre seu racionalismo, a atualidade de seus dogmas, o alcance da ciência em explicar o que a religião ou o mito sempre reclamaram para si. E seus golpes mais desesperados têm se baseado no ataque deliberado e irracional, como era de se esperar.

Mas, aparentemente, já é tarde para tentar tapar o Sol com a peneira. O secularismo é uma posição que permeia alguns dos países mais desenvolvidos do mundo atualmente, muitas vezes em maioria populacional. O número de pessoas que preferem não se aliar a uma religião institucionalizada e mantêm sua fé para si numa forma espiritualizada, ou que a abandonam de vez, é progressivamente maior. Não só a descrença e a incredibilidade nas instituições religiosas crescem exponencialmente, como também a noção de que a fé deve somente pertencer ao reino cultural de uma sociedade, no pensamento dos que preservam crenças liberais.

“O movimento cresceu, tomou forma. E tenho certeza de que não é uma luta em vão”

As instituições que sobrevivem a base de dogma, autoridade, revelação e fé irracional não são questionadas só por ateus. São questionadas por religiosos, irreligiosos ou espiritualistas. São questionadas por governos, políticas liberais, por sistemas judiciais inteiros.

E eu compartilho da luta que é travada diariamente contra a superstição e o charlatanismo, contra a tentativa desesperada de lobbys religiosos em estatizar suas doutrinas, contra a pregação da intolerância. Milito orgulhosamente ao lado dos que sabem que não é errado dizer que é ateu, secularista ou irreligioso, que também não concordam com a influência religiosa em assuntos do estado, que contrariam a incessante doutrinação de crianças em escolas ou na TV, ou que defendem e sentem empatia pelas minorias mais estigmatizadas neste país.

Não estou sozinho. O movimento cresceu, tomou forma. E tenho certeza de que não é uma luta em vão, infrutífera, e nem sequer uma luta perdida. Cabe a nós defender o que nos parece mais correto, unidos não só pela descrença, mas pelos ideais que, esperamos, moldarão uma sociedade mais igualitária.
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http://bulevoador.haaan.com/2010/10/22/o-alcance-do-ativismo-secularista/#more-18165

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