Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Hitchens afirma que ser ateu não é algo que é, mas o que se faz

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Por causa de sua luta contra um câncer, Christopher Hitchens (foto), 62, está sem cabelo, magro e com a voz suave, conforme se viu no sábado (8) em uma convenção da AAA (Atheist Alliance of America). Ele compareceu ali para receber um prêmio, o Freethinker.

O New York Times relatou que o ateu talvez mais proeminente dos Estados Unidos ficou lisonjeado com a homenagem, mas também se mostrou um tanto envergonhado. “Eu acho que ser ateu é algo que você não é, mas algo que você faz”, disse.

A entrega do prêmio ocorreu em Houston, o que facilitou o comparecimento de Hitchens porque ele se mudou para um hospital da cidade, o MD Anderson Cancer Center. O escritor está instalado no 12º andar, em um quarto que agora mais parece uma pequena biblioteca temporária. Hitchens levou para lá dezenas de livros.

Além da premiação, ele saiu do hospital para comparecer à convenção porque na véspera daquele dia fez 30 anos de sua partida da Inglaterra, seus país natal, para os Estados Unidos, onde se radicou e obteve cidadania.

Hitchens descobriu que estava com um câncer raro no esôfago em junho de 2010. Desde então já teve duas quedas de cabelos e obviamente teve de parar de fumar e de beber uísque – dois de seus maiores prazeres. Mas não reclama disso. Para ele, o deprimente é ter um tubo de alimentação instalado no estômago. “O gosto se foi”, disse. “Eu nem mais o quero [o paladar]. É incrível com a gente se acostuma com certas coisas.”

Não há perspectiva de cura, e Hitchens, por motivos óbvios, não acredita em milagre. Ele já esteve pior, quando perdeu a fala. "Não sei por que fiquei tão doente. Talvez tenha sido o cigarro ou os genes. Meu pai morreu da mesma coisa. É inútil se entregar ao remorso.”

Psicologicamente, Hitchens continua resistindo. Disse que se vê vivendo com câncer e não morrendo da doença. “Tive algumas noites de tormentos, mas ceder à depressão seria uma traição, uma derrota.”

Ele permanece escrevendo artigos sobre vários assuntos com estilo e erudição. Na semana passada, em um laptop em sua mesa de cabeceira, ficou acordado até a 1h da manhã para terminar um texto para a Vanity Fair.

“A escrita é algo que faço para viver, tudo bem - é o meu sustento. Mas também é minha vida. Eu não poderia viver sem ela", afirmou. Mas deixou de ser prolixo. Hitchens disse que, ao menos por ora, não tem força para escrever um novo livro. O seu mais recente, o Argualby (sem tradução para o português), poderá ser o último.

O jornalista Charles McGrath escreveu que Hitchens tem tido o apoio de muitas pessoas, principalmente de sua mulher, Carol Blue, e de amigos como o escritor Martin Amis.

Amis comentou: “Hitchens tem esse grande amor pela vida, do qual tenho inveja. É uma coisa estranha de dizer, mas ele agora é quase como um monge tibetano. É como se ele tivesse se tornado religioso”.

O título do texto do NYT é "A voz, ainda vibrante, reflete sobre a mortalidade".

http://www.paulopes.com.br/2011/10/hitchens-afirma-que-ser-ateu-nao-e-algo.html

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