Pôster do filme “Criação” (Creation) - baseado no livro “Annie’s Box”, escrito por Randal Reynes, tataraneto de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução.

domingo, 25 de março de 2012

Soluções combinadas para dilemas comuns - A tecnologia em um planeta conectado em rede será a ferramenta para resolver os principais problemas da humanidade no futuro

Estação de captação da energia solar na Espanha: potencial do sol ainda não é utilizado em larga escala


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A história da inteligência humana sugere que, de tempos em tempos, um determinado local consegue reunir um grupo de mentes extraordinárias dedicadas a uma mesma área. Dos gênios multi-ofício do Renascimento aos jovens roqueiros britânicos dos anos 1960, as revoluções tendem a ocorrer a partir da convergência de um pequeno número de talentos semelhantes. A era digital, no entanto, dificulta a repetição do fenômeno – ao menos nesses padrões.

Ainda bem. Se o século 21 nasceu debruçado sobre problemas complexos e imediatos, em compensação está habitado por bilhões de pessoas com capacidade de contribuir com ideias para a solução deles. Os desafios parecem gigantescos – e são –, mas os recursos para enfrentá-los nunca foram tão amplos. Em um livro lançado recentemente nos Estados Unidos, os autores Peter Diamandis e Steven Kotler defendem que temos potencial para resolver os principais problemas socioeconômicos da humanidade nas próximas três décadas.

Campos de estudo

Energia, água e alimento são desafios do futuro

Analistas do setor de energia gostam de lembrar que até a energia de matriz hidrelétrica é limitada. Afinal, ressaltam, não existem novos rios surgindo no planeta. Mas existe sol, e ele é para todos. A cada 88 segundos, o astro irradia 16 terawatts de energia sobre o planeta, mais do que o utilizado pela humanidade em um ano.

Somente no ano passado, foram instalados 11 mil megawatts em energia solar no mundo – praticamente uma Itaipu. “Ainda não temos tecnologia para utilizar o potencial do sol em larga escala. Mas está batendo à porta da humanidade”, garante Mauro Passos, presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal).

O suprimento de água potável descongelada, já exíguo (0,5% do total da água do planeta), está constantemente ameaçado pela poluição. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 900 milhões de pessoas não têm suprimento regular de água.

Os projetos de dessalinização ainda estão em fase inicial de experimentação, sem aplicação comercial viável. Porém o empreendedor norte-americano Dean Kamen, inventor do patinete Segway, pode ter criado uma possível solução com o seu purificador de água Slingshot. Do tamanho de um refrigerador compacto e com custo estimado de US$ 2 mil, o aparelho transforma em água potável “qualquer substância líquida”, nas palavras de seu criador. Em uma apresentação, ele inseriu a própria urina no aparelho e a bebeu. Em 2006 o aparelho foi testado e funcionou por um mês em uma vila em Honduras.

A mecanização e uso de fertilizantes na agricultura refutou o dilema malthusiano, que previa falta grave de alimentos por causa do crescimento populacional. Mas ainda existe o desafio de alimentar as 3 bilhões de novas bocas que surgirão no planeta até 2050. Nesse contexto, a biotecnologia surge como a terceira onda. “Esse movimento começou já na inseminação artificial na pecuária, e agora chega aos transgênicos”, relata João Batista Padilha, vice-diretor do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná.

Telemedicina

Os projetos na área médica estão entre os mais arrojados. Uma organização norte-americana criou a Qualcomm Tricorder X Prize, um prêmio para quem conseguir desenvolver um aparelho do tamanho de um celular capaz de monitorar o corpo humano e diagnosticar doenças. “A telemedicina é importante em lugares onde não existem profissionais médicos, mas jamais substituirá o contato direto com o paciente”, garante o pneumologista Gerson Zafalon, coordenador da Câmara Técnica de Telemedicina do Conselho Federal de Medicina. (OT)

Interatividade

Qual das quatro forças citadas no livro será mais decisiva para o futuro da humanidade?

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O livro Abundance: The Future is Better than you Think (Abundância: o futuro será melhor do que você pensa, em tradução livre), ainda sem previsão de publicação no Brasil, aponta o desenvolvimento tecnológico como a ferramenta libertadora. Potencializada pelas bilhões de mentes integradas pela internet, argumentam os autores, ela será capaz de ajudar a humanidade a descobrir como suprir as necessidades materiais de cada homem, mulher e criança do planeta Terra.

As projeções científicas demonstram que estamos próximos da saturação de recursos como água e energia, enquanto outros como alimentos, medicina e educação não conseguem chegar à maioria da população mundial. Diamandis e Kotler listam quatro forças que, atuando juntas, poderão equalizar esse desequilíbrio. Elas já existem e, ao longo dos próximos anos, se integrarão cada vez mais.

Lei de Moore

A primeira delas é o próprio crescimento exponencial da tecnologia. Em 1965, o executivo Gordon Moore, então presidente da Intel, previu que o número de semicondutores em um computador dobraria a cada 18 meses. A declaração acertada ganhou peso e ficou conhecida como a Lei de Moore, capaz de explicar porque o celular no seu bolso é um milhão de vezes mais barato e mil vezes mais rápido que um supercomputador dos anos 70, além de outras inovações. Inteligência artificial, robótica e biologia sintética seguem o mesmo padrão.

A segunda força é representada pelos empreendedores estilo faça-você-mesmo. São, em sua maioria, jovens que nasceram imersos na era da informação. A falta de barreiras para o conhecimento estimula a adoção de objetivos arrojados. “É uma geração de proativos com a ambição de ser em protagonistas de seu tempo”, avalia Genésio Gomes, doutor em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Pernam­buco e professor de cultura empreendedora.

Se bem-sucedidos, os integrantes desta segunda força migram para a terceira. São os tecnofilantropos, capazes de financiar pesquisas de ponta. Os milionários da internet costumam se encaixar nesse grupo. Sergey Brin, do Google, apoia pesquisas na área médica. Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, criou uma fundação para suporte educacional. Bill Gates ataca a pobreza em diversas frentes – de recursos para agricultura a bibliotecas.

A quarta força é responsável por fazer as outras três ganharem escala. Os autores a chamam de “os bilhões ascendentes”, referindo-se às pessoas que entrarão pela primeira vez na internet nas próximas décadas. Em 2010, havia 2 bilhões de pessoas conectadas (23% da população mundial). Daqui a dez anos, serão 5 bilhões (66% da população).

“Três bilhões de vozes que jamais foram ouvidas se integrarão ao debate global”, anima-se Diamandis, gestor de uma organização dedicada a premiar ideias inovadoras nos Estados Unidos, em conferência publicada em vídeo na internet. O colega Steven Kotler complementa: “Se o mundo não estiver junto para resolver os problemas, estamos todos desperdiçando o nosso tempo”.

“Escassez depende do contexto”, diz autor

A ideia de crescimento exponencial não é nova, nem está relacionada exclusivamente à computação. A trajetória do século 20 de­­monstra ganhos significativos em diversas áreas, superando numericamente – por larga vantagem – os avanços dos séculos anteriores. Enquanto a expectativa de vida dobrou, a renda média triplicou e o analfabetismo despencou de 75% para 20% no mundo.

As áreas relacionadas à tecnologia foram as que realmente evoluíram mais rápido. Um aldeão africano tem uma conexão de celular melhor que a do ex-presidente Ro­­nald Reagan (1981-1989). Se usá-lo para acessar a internet, terá uma conexão melhor que a disponibilizada no governo Clinton (1993-2000). Esse avanço puxa tudo o que usa a tecnologia como ferramenta – da agricultura à medicina.

No livro The Rational Optimist (O Otimista Racional, em tradução li­­vre), o escritor britânico Matt Ri­­dley lembra que estamos constantemente redefinindo o conceito de pobreza – sempre para cima. Nos EUA, 99% das pessoas abaixo da linha de pobreza têm ele­­tricidade, geladeira, água e es­­go­­to, algo que seria considerado um luxo mesmo para pessoas com boa renda na metade do século passado.

“A escassez é contextual”, defende Peter Diamandis, um dos autores do livro Abundance, projetando que no futuro os temores sobre o suprimento de água, energia elétrica e alimentos serão motivo de piada. Ele lembra que o alumínio era um metal mais precioso que o ouro, porque era raro de ser encontrado em estado natural. Hoje se transformou em um metal banal.


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