quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Brain drain: o ralo é mais embaixo
Um interessante estudo do US National Bureau of Economic Research mostrando a porcentagem de cientistas de um país morando no exterior e a porcentagem de cientistas estrangeiros neste país acabou de ser divulgado pela Times Higher Education.
Os resultados são muito interessantes: países como Canadá, Suíça e Austrália aparecem como grande importadores de cientistas enquanto Índia, Itália e Japão são os países que parecem ser mais fechados a estrangeiros. A Índia é um caso à parte: sua exportação de cientistas é tão grande comparada com sua importação que é um exemplo clássico de brain drain.
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Brain drain é um conceito criado no pós-guerra, quando milhares de cientistas migraram da Europa para os Estados Unidos. O Brasil tem, historicamente, um terror enorme de perder seus talentos para outros países. Este estudo sugere que estes temores, pelo menos na Academia, são infundados: o Brasil é um dos países que possuem taxas de exportação/importação de cientistas equilibradas. No entanto isso não quer dizer que estamos bem: apesar de equilibradas, nossas taxas estão entre as mais baixas nos países indicados, revelando outras características de nossa Ciência: uma certa paroquialidade e insularismo.
A Ciência é uma rede social
No começo do ano passado nenhuma universidade brasileira ficou entre as 200 melhores no ranking da Times Higher Education. A principal razão: pouca visibilidade internacional. Um mapa mundial mostrando as colaborações científicas entre diferentes países ilustra isso. Em suma, nossas universidades recebem poucos pesquisadores estrangeiros, poucos estudantes estrangeiros e são pouco conhecidas lá fora. Só que a Ciência é uma rede social internacional e os pontos mais fracos de uma rede são os que possuem poucas conexões.
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Os benefícios do brain drain
Quando ganhamos uma bolsa de doutorado da CAPES ou do CNPq para fazer doutorado no exterior, comprometemo-nos a trabalhar no Brasil pelo mesmo período de tempo após a obtenção do título. Na visão atual, não importa que governos estrangeiros queiram pagar para você completar sua formação lá fora pois não voltar imediatamente só aumenta o risco do investimento do governo ir ralo abaixo (veja minha opinião sobre isso). Só que é no posdoc que fazemos os principais contatos que irão compor sua rede de colaboradores no futuro, pois é a primeira vez que você pode começar a desenvolver uma linha de pesquisa independente. E nossa política científica pega recém-doutores, inseridos em um contexto internacional, prontos para criar suas próprias redes de colaboração, e os obriga a voltar ao país!
Você pode estar se perguntando: isso não aumenta as chances do pesquisador nunca mais voltar? Sim, mas qual o problema? Como um cientista irlandês uma vez me perguntou: “um cientista brasileiro no exterior não continua trazendo benefícios para o país?” SIM SIM SIM! Cientistas brasileiros no exterior são peças fundamentais para que novas colaborações internacionais com o Brasil surjam! Colocar cientistas lá fora que possuam conexões no país nos trazem mais pertos dos grandes hubs da Ciência mundial e outra coisa sobre redes: quanto mais conexões com os principais hubs, mais importante você é (e maior a sua chance de se tornar um hub). Além disso cientistas sêniores semrpe podem voltar, visto o caso do Nicolelis.
Esta lógica também se aplica ao caso do brain gain: é necessário facilitar a importação de talentos internacionais para o país (ainda mais em tempos de crise mundial). Exigências como reconhecimento do diploma de doutorado no país (demora mais de 6 meses) e prova em português só fecham nossa Ciência ao resto do mundo.
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Mas o buraco é mais embaixo
Outro problema é que nos preocupamos demais com a perda de cérebros para o exterior mas nos esquecemos dos cérebros que perdemos dentro do país. A falta de políticas científicas e tecnológicas eficazes faz com que muitos talentos científicos sejam perdidos para outras áreas. Quantos cientistas geniais foram trabalhar em bancos ou como vendedores por falta de alternativas? Mais especificamente: quantos abandonaram a Academia? Pessoalmente não acho ruim em ver cientistas irem trabalhar em empresas de tecnologia, ensino ou divulgação científica, mas quantos talentos genuínos perdemos? E quantos outros talentos nunca tiveram oportunidade de serem desenvolvidos por causa da má qualidade de nosso ensino científico e carência de divulgação (e “evangelização”) científica? Este, meus caros, é o real desperdício de cérebros.
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http://scienceblogs.com.br/brontossauros/2012/05/brain_drain/?fb_source=ticker&fb_action_ids=3947929809282&fb_action_types=og.likes
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