O chimpanzé Ferdinand, no parque Gombe, na Tanzânia
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Cenário das pesquisas da primatóloga Jane Goodall, 77, o parque Gombe é um santuário da história da ciência.
Foi nessa reserva, na fronteira oeste da Tanzânia, que Goodall viveu nos anos 60 as histórias narradas no livro clássico "In the Shadow of Man" ("À Sombra do Homem"), publicado em 1971, sem edição em português.
Ela passou décadas no local, às vezes sozinha, observando chimpanzés nativos.
O esforço resultou em pesquisas que sacudiram os galhos em que biólogos e antropólogos estavam sentados.
Ao ver um macaco usar um graveto para "pescar" cupins, Goodall concluiu que a ciência estava equivocada ao supor que apenas homens são capazes de fazer ferramentas.
O Gombe é palco desse achado. É lar, também, de celebridades do mundo animal. Descritos à exaustão, macacos como David Greybeard e Flo tornaram-se caros para leitores de todo o mundo.
No parque, visitantes pagam US$ 100 para caminhar pelas florestas por uma manhã, acompanhados de guia, e torcer para se deparar com um grupo de chimpanzés.
O plural em "visitantes" é retórico. Inóspito, o parque não é destino turístico comum na Tanzânia, mais conhecida pelos safaris ao norte do país. A Folha foi um dos cerca de 20 visitantes de janeiro.
O parque, porém, comemora a baixa procura. "É bom haver pouco contato humano", diz Lipende. Em 1966, um grave surto de pólio ameaçou a população de chimpanzés.
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ESPÍRITO
Após décadas de pesquisa, Jane Goodall tornou-se figura mítica, espécie de talismã do parque. Os funcionários falam dela com reverência e carinho.
"Quando ela vem, é uma coisa espiritual", conta o veterinário Iddi Lipende. "Ela não quer conversar. Quer andar sozinha pela floresta. É o único lugar no mundo em que ela pode rejuvenescer", diz.
O guia Iddi Kalusi se gaba de ter acompanhado Goodall na escalada ao "Pico da Jane", a mil metros de altura, em julho do ano passado. "Ela sobe, mas vai tremendo", diz.
Hoje, 48 pesquisadores dão continuidade ao trabalho de Goodall, monitorando os cerca de 106 chimpanzés. Além deles e da população do vilarejo, moram no parque quatro guias e dois "trekkers".
É uma vida frugal. A energia elétrica, vinda de gerador, só funciona entre 7h e 8h e, à noite, entre 18h e 23h.
As casas, sem luxos, são construídas dentro de grades de ferro. Não fossem as barras metálicas, os babuínos roubariam o pouco que há.
As tropas desse primata infestam o parque. Nas margens do lago Tanganyika, eles bebem da água transparente -e tentam roubar as roupas do repórter. Durante o dia, pulam nos telhados das construções e esperneiam entre si.
Então se entregam a momentos ternos. Coçam uns aos outros -fechando os olhos durante as carícias.
A equipe do Gombe hoje continua o trabalho de Goodall, observando aspectos comportamentais como localização, alimentação e interação entre mãe e filho.
A questão materna foi um dos focos da primatóloga, exemplificada nas histórias de Flo e Fifi que ela relatou.
Os pesquisadores do parque creem que essa relação está na origem, por exemplo, da predisposição da família de Flo e Fifi para ocupar o posto de macho-alfa do bando.
A preocupação com comportamentos hereditários é, também, analisada em outro estudo em curso. Por meio de amostra fecal, pesquisadores reconhecem --bem, à revelia dos chimpanzés-- a paternidade dos filhotes do parque.
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http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1056656-folha-visita-parque-na-tanzania-onde-o-uso-de-ferramentas-entre-macacos-foi-observado.shtml
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